Proximas Chamadas
Vol. 27/3 (setembro, outubro, novembro, dezembro/2025)
Tema: Eça de Queirós, nosso contemporâneo
Editores Convidados:
José Vieira (Universidade de Lisboa/Università Degli Studi di Padova)
Carlos Nogueira (Universidade de Vigo/Cátedra José Saramago- CEL- Universidade de Trás- os- Montes e Alto Douro)
Recepção: 16/01/2025 a 15/05/2025
Ementa:
Esse ano celebramos os 180 anos do nascimento de Eça de Queirós, um dos maiores escritores da literatura em língua portuguesa e da literatura universal. Um clássico, sim dúvidas, um modernizador e um agudo analista da condição humana. Como homenagem ao mestre português, a revista Alea dedica este número a sua obra imortal, convocando a recepção de trabalhos nos seguintes eixos temáticos, num claro sinal de vitalidade e importância de um escritor sempre contemporâneo: Eça de Queirós e os desafios do mundo (hiper)contemporâneo; Personagem e figuração em Eça de Queirós; Eça de Queirós e Portugal; Eça de Queirós e o Brasil; Eça de Queirós, a Europa e o mundo; Sobrevida(s) queirosianas; Eça de Queirós e outras artes; Sátira, ironia e humor em Eça de Queirós; Intermedialidade(s) e estudos narrativos em Eça de Queirós.
Vol. 28/1 (janeiro, fevereiro, março, abril/2026)
Tema Livre
Recepção: 16/05 a 15/09 de 2025
Vol. 28/2 (maio, junho, julho, agosto/2026)
Tema: Luto e história na cultura brasileira: da redemocratização aos nossos dias
Editores Convidados:
Fadul Moura (Universidade Federal de Minas Gerais)
Ana Karla Canarinhos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Lua Gill da Cruz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Leonardo Tonus (Sorbonne Nouvelle)
Recepção: 16/09 de 2025 a 15/01 de 2026
Ementa:
A produção literária do período da transição democrática brasileira é, segundo Flora Süssekind, marcada pela presença de motivos fúnebres. As mortes de Tancredo Neves, de Cazuza, de Ayrton Senna, por exemplo, ganharam notoriedade em decorrência da ação da mídia. O tratamento conferido ao luto de outras classes do país, no entanto, não foi o mesmo: “[…] aos contaminados pelo HIV, silenciados socialmente, e aos desaparecidos e executados da ditadura, que ressurgiram sobretudo em arquivos e listagens coletivas, como presença surda (mais intensa) no processo de redemocratização, a estes caberia assombrar lutuosamente a escrita e as figurações autorais nesse período de transição” (Süssekind, 2022, p. 188). Ao chegarmos ao século XXI, encontramos em Monodrama (2009), de Carlito Azevedo, a elaboração do luto pela perda da mãe, experiência concatenada literariamente à morte de Roland Barthes, à de Charles Chaplin e à de Pier Paolo Pasolini, como se a composição poética exigisse o reconhecimento de todas as mortes ao mesmo tempo. No domínio das artes, Nuno Ramos já havia assinalado o lugar do luto ao lembrar o massacre do Carandiru com a instalação 111 (1992). Seguindo um tom diferente, Leila Danziger constrói o luto através de uma arte feita de palavras e imagens: seja orientada à morte do pai, seja à dos desaparecidos no período da ditadura civil-militar brasileira, explicita-se o desajuste ocasionado pelo corte radical da vida. Ele pode até iniciar em uma dimensão pessoal, todavia, alcança uma reflexão de caráter histórico ao colocar na ordem do dia a necessidade de enfrentamento da memória cultural brasileira.
O luto implica memória, um estar com o outro e um senso de coletividade, algo que Jacques Derrida (1996) aponta como um passado inseparável de um viés político, que mistura diferentes temporalidades; advém disso nossa condição de herdeiros enlutados (Derrida, 1994), por recebemos uma herança que de alguma maneira é imposta pela via da memória e do rastro, exigindo uma reflexão a respeito da justiça e da ética. Sob esses aspectos, os projetos estéticos apresentados também fazem eco com o pensamento de Judith Butler (2015, p. 13), que nos esclarece: “[...] Se certas vidas não são qualificadas como vidas ou se, desde o começo, não são concebíveis como vidas de acordo com certos enquadramentos epistemológicos, então essas vidas nunca serão vividas nem perdidas no sentido pleno dessas palavras”. Ora, é contra esse esvaziamento que as produções literárias e artísticas brasileiras se levantam desde o período da redemocratização. O trabalho realizado por artistas relembra ao público que “o luto também inclui um momento de suspensão do valor de troca, pois o objeto do luto se afirma invariavelmente como único, singular, resistente a toda transação, substituição ou intercâmbio” instituído pelo mercado, como destacou Idelber Avelar (2003, p. 239) acerca da ficção pós-ditatorial latino-americana. A seu modo, a cultura brasileira surge como recusa às dinâmicas econômicas que minimizam as perdas sofridas e como força dedicada a resgatar aquilo que não se realizou; por sua vez, o debate instalado pelas obras cresce principalmente em função das contingências políticas que conduziram a marcha histórica nos governos de esquerda. Se tal movimento garantiu a escrita e a publicação de autores como Bernardo Kucinski ou Marcelo Rubens Paiva, não deixou de imprimir uma marca na recepção do romance K. relato de uma busca (2014) e do filme Ainda estou aqui (2024), dirigido por Walter Salles.
Diante das sinalizações oferecidas pela produção cultural dos anos 1980 até o presente, o interesse desta chamada é discutir as formas estéticas que entrecruzam dimensões individuais e coletivas conferidas ao luto (e à sua interdição) tanto pela produção literária quanto pela artística. Por esse motivo, serão acolhidas propostas sobre: poetas que explicitem, por meio de seu trabalho estético, tensões no seio da história cultural brasileira, repleta de lutos não realizados; prosadores que dramatizem, no corpo de suas obras, o enfrentamento da perda e sua dimensão coletiva; artistas cujos trabalhos suscitem a reflexão acerca do elemento fúnebre em suportes diversificados; análises de viés comparatista focados no problema do luto no Brasil e outros países; análises que cruzem modalidades artísticas distintas, das quais se possa extrair uma dimensão histórica e social do luto; perspectivas críticas e comparadas com o campo das artes, reveladoras de problemáticas que envolvem conceitos relacionados ao luto.
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