Chamada de artigos para dossiê temático

2025-10-14

Chamada de artigos para o dossiê temático "Memória digital, factualidade e regime de verdade".

Organizadoras: 

Dra. Kelly Janaína Souza da Silva (Universidade Estadual Paulista - UNESP)

Dra. Maria Teresa Cruz (Universidade Nova de Lisboa – UNL)

 

Prazo de submissão: 28 de fevereiro de 2026.

 

O tema “Memória digital, factualidade e regime de verdade” é extremamente relevante em nossa época, em que a tecnologia molda não apenas a forma como criamos e acessamos informações, mas também como essas informações são interpretadas e preservadas ao longo do tempo. Com o avanço da tecnologia, cada vez mais aspectos da nossa vida estão sendo registrados e arquivados digitalmente, desde fotos e vídeos pessoais até documentos históricos e registros governamentais. A memória digital, portanto, tem o potencial de democratizar o acesso à informação, facilitando a preservação e a disseminação de conhecimento, oferecendo novas ferramentas e métodos para a preservação de informações, mas também apresentando desafios únicos, como a obsolescência tecnológica e a fragilidade dos dados digitais, além da questão da factualidade das informações divulgadas. A partir disso, temos que os regimes de verdade podem influenciar quais aspectos da memória são priorizados e preservados, enquanto outros são negligenciados ou apagados, podendo interferir com a factualidade daquilo que se preserva.

O conceito de regimes de verdade, popularizado pelo filósofo Michel Foucault, refere-se às formas pelas quais a sociedade estabelece e valida o que é considerado verdadeiro em um determinado momento histórico. Eles moldam a maneira como as tecnologias digitais são utilizadas e percebidas pela sociedade e determinam quais tipos de informações são considerados legítimos e dignos de serem preservados, influenciando as práticas de arquivamento e conservação da memória. Os regimes de verdade são construídos por meio de práticas sociais, instituições e discursos, que moldam nossas percepções de realidade e validam certos conhecimentos como legítimos. Eles não são fixos, mas sim fluídos, e sujeitos a mudanças ao longo do tempo. As tecnologias digitais influenciam diretamente os regimes de verdade, pois moldam a forma como as informações são produzidas, disseminadas e interpretadas. Elas fornecem novos meios de criação e compartilhamento de conhecimento, mas também podem ser usadas para distorcer ou manipular a realidade. 

A facilidade com que as informações podem ser editadas, manipuladas e disseminadas rapidamente no meio online hoje levanta questões sobre a confiabilidade e a autenticidade dos dados digitais, ressaltando a importância de cultivar habilidades críticas de avaliação da informação e de implementar mecanismos de verificação de fatos na era digital. Contemporaneamente, a preservação da memória é afetada tanto pelas tecnologias digitais quanto pelos regimes de verdade, já que a proliferação de informações na era digital também apresenta desafios em relação à verdade fatual. Em suma, as tecnologias digitais, os regimes de verdade e a memória digital estão intrinsecamente interligados em nossa época, influenciando e sendo influenciados mutuamente na forma como entendemos e preservamos a história e o conhecimento. 

Sendo assim, importa considerar essas interações complexas ao examinar como as sociedades lidam com a produção, disseminação e preservação de informações em um mundo cada vez mais digitalizado, em que as tecnologias digitais têm transformado radicalmente a maneira como produzimos, compartilhamos e consumimos informações. A partir da apresentação de aspectos que compreendam o atual estado de arte das mídias digitais e seus efeitos no que diz respeito ao tema da verdade, essa chamada de artigos visa a discutir os reflexos e as implicações da expansão tecnológica exponencial sobre a preservação e legitimidade das chamadas verdades de fato, em especial, sobre o impacto da sociedade digital na maneira como verdades de fato podem ser comunicadas às futuras gerações. Assim, convidamos historiadores, filósofos, cientistas sociais, pensadores, profissionais da informação, profissionais de arquivologia, professores, estudantes e pesquisadores, a refletir, analisar e debater as questões envolvidas em torno do tema “Memória digital, factualidade e regime de verdade” e os processos de tecnologias digitais em geral ante a preservação da verdade fatual para a posteridade.