Proximas Chamadas
Vol. 28/1 (janeiro, fevereiro, março, abril/2026)
Tema Livre
Recepção: 16/05 a 15/09 de 2025
Vol. 28/2 (maio, junho, julho, agosto/2026)
Tema: Luto e história na cultura brasileira: da redemocratização aos nossos dias
Editores Convidados:
Fadul Moura (Universidade Federal de Minas Gerais)
Ana Karla Canarinhos (Universidade do Estado do Rio de Janeiro)
Lua Gill da Cruz (Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Leonardo Tonus (Sorbonne Nouvelle)
Recepção: 16/09 de 2025 a 15/01 de 2026
Ementa:
A produção literária do período da transição democrática brasileira é, segundo Flora Süssekind, marcada pela presença de motivos fúnebres. As mortes de Tancredo Neves, de Cazuza, de Ayrton Senna, por exemplo, ganharam notoriedade em decorrência da ação da mídia. O tratamento conferido ao luto de outras classes do país, no entanto, não foi o mesmo: “[…] aos contaminados pelo HIV, silenciados socialmente, e aos desaparecidos e executados da ditadura, que ressurgiram sobretudo em arquivos e listagens coletivas, como presença surda (mais intensa) no processo de redemocratização, a estes caberia assombrar lutuosamente a escrita e as figurações autorais nesse período de transição” (Süssekind, 2022, p. 188). Ao chegarmos ao século XXI, encontramos em Monodrama (2009), de Carlito Azevedo, a elaboração do luto pela perda da mãe, experiência concatenada literariamente à morte de Roland Barthes, à de Charles Chaplin e à de Pier Paolo Pasolini, como se a composição poética exigisse o reconhecimento de todas as mortes ao mesmo tempo. No domínio das artes, Nuno Ramos já havia assinalado o lugar do luto ao lembrar o massacre do Carandiru com a instalação 111 (1992). Seguindo um tom diferente, Leila Danziger constrói o luto através de uma arte feita de palavras e imagens: seja orientada à morte do pai, seja à dos desaparecidos no período da ditadura civil-militar brasileira, explicita-se o desajuste ocasionado pelo corte radical da vida. Ele pode até iniciar em uma dimensão pessoal, todavia, alcança uma reflexão de caráter histórico ao colocar na ordem do dia a necessidade de enfrentamento da memória cultural brasileira.
O luto implica memória, um estar com o outro e um senso de coletividade, algo que Jacques Derrida (1996) aponta como um passado inseparável de um viés político, que mistura diferentes temporalidades; advém disso nossa condição de herdeiros enlutados (Derrida, 1994), por recebemos uma herança que de alguma maneira é imposta pela via da memória e do rastro, exigindo uma reflexão a respeito da justiça e da ética. Sob esses aspectos, os projetos estéticos apresentados também fazem eco com o pensamento de Judith Butler (2015, p. 13), que nos esclarece: “[...] Se certas vidas não são qualificadas como vidas ou se, desde o começo, não são concebíveis como vidas de acordo com certos enquadramentos epistemológicos, então essas vidas nunca serão vividas nem perdidas no sentido pleno dessas palavras”. Ora, é contra esse esvaziamento que as produções literárias e artísticas brasileiras se levantam desde o período da redemocratização. O trabalho realizado por artistas relembra ao público que “o luto também inclui um momento de suspensão do valor de troca, pois o objeto do luto se afirma invariavelmente como único, singular, resistente a toda transação, substituição ou intercâmbio” instituído pelo mercado, como destacou Idelber Avelar (2003, p. 239) acerca da ficção pós-ditatorial latino-americana. A seu modo, a cultura brasileira surge como recusa às dinâmicas econômicas que minimizam as perdas sofridas e como força dedicada a resgatar aquilo que não se realizou; por sua vez, o debate instalado pelas obras cresce principalmente em função das contingências políticas que conduziram a marcha histórica nos governos de esquerda. Se tal movimento garantiu a escrita e a publicação de autores como Bernardo Kucinski ou Marcelo Rubens Paiva, não deixou de imprimir uma marca na recepção do romance K. relato de uma busca (2014) e do filme Ainda estou aqui (2024), dirigido por Walter Salles.
Diante das sinalizações oferecidas pela produção cultural dos anos 1980 até o presente, o interesse desta chamada é discutir as formas estéticas que entrecruzam dimensões individuais e coletivas conferidas ao luto (e à sua interdição) tanto pela produção literária quanto pela artística. Por esse motivo, serão acolhidas propostas sobre: poetas que explicitem, por meio de seu trabalho estético, tensões no seio da história cultural brasileira, repleta de lutos não realizados; prosadores que dramatizem, no corpo de suas obras, o enfrentamento da perda e sua dimensão coletiva; artistas cujos trabalhos suscitem a reflexão acerca do elemento fúnebre em suportes diversificados; análises de viés comparatista focados no problema do luto no Brasil e outros países; análises que cruzem modalidades artísticas distintas, das quais se possa extrair uma dimensão histórica e social do luto; perspectivas críticas e comparadas com o campo das artes, reveladoras de problemáticas que envolvem conceitos relacionados ao luto.
Vol. 28/3 (setembro, outubro, novembro, dezembro/2026)
Tema: Descolonização do saber: a China e as literaturas neolatinas em diálogo
Editores Convidados:
Fan Xing (Universidade de Pequim)
Fabio Akcelrud Durão (Unicamp)
Wei Ran (Universidade Tsinghua)
Zhang Wen (Universidade de Pequim)
Recepção: 16/01/2026 a 15/05/2026
Ementa:
O campo acadêmico contemporâneo apresenta um paradoxo: a centralidade do inglês como língua de mediação limita o diálogo direto entre países não centrais, mantendo tradições críticas fora do eixo do Norte Global em condição de invisibilidade. Na China, a leitura, a tradução e a crítica das literaturas neolatinas — portuguesa, espanhola, francesa, italiana e romena — já têm certa escala, mas ainda não receberam reconhecimento internacional suficiente. Ao mesmo tempo, a circulação da literatura chinesa no mundo neolatino carece de um enquadramento metodológico sólido. Nesse contexto, reduzir a dependência de mecanismos intermediários e privilegiar interações diretas entre chinês e português/espanhol/francês/italiano/romeno significa não apenas criticar os sistemas vigentes, mas também responder às novas condições disciplinares. Esse movimento amplia o horizonte: do diálogo sino-europeu tradicional às atuais interações sino-africanas e sino-latino-americanas, revelando novas dinâmicas no cenário literário global.
O dossiê Descolonização do saber: a China e as literaturas neolatinas em diálogo propõe repensar os estudos comparativos a partir de relações horizontais e plurilíngues, destacando como as trocas diretas entre a China e o mundo neolatino podem renovar as categorias críticas e abrir novos caminhos para a produção de conhecimento literário em escala global. Visto isso, convidam-se trabalhos que abordem, entre outros temas: estudos das literaturas neolatinas a partir da perspectiva chinesa; paradigmas chineses na pesquisa das literaturas neolatinas; transferências culturais nas traduções recíprocas entre a China e as literaturas neolatinas; reinterpretações da literatura chinesa por tradutores neolatinos; interações e intertextualidades entre a China e as literaturas neolatinas; o diálogo sino-neolatino e o sistema da literatura mundial; o diálogo sino-neolatino e a produção transcultural do conhecimento.
Vol. 28/3 (September, October, November, December/2026)
Theme: Decolonizing Knowledge: China and Romance Literatures in Dialogue
Guest Editors:
Fan Xing (Peking University)
Fabio Akcelrud Durão (Unicamp)
Wei Ran (Tsinghua University)
Zhang Wen (Peking University)
Submission period: January 16, 2026 – May 15, 2026
Abstract:
Contemporary scholarship faces a paradox: the centrality of English as a mediating language limits direct dialogue among non-central countries, keeping critical traditions outside the axis of the Global North in a state of invisibility. In China, the reading, translation, and criticism of the Romance literatures — Portuguese, Spanish, French, Italian and Romanian — have already gained a certain scale, yet they have not received sufficient international recognition. At the same time, the circulation of Chinese literature in the Romance-speaking world lacks a solid methodological framework. In this context, reducing dependence on intermediary mechanisms and privileging direct interactions between Chinese and the Portuguese, Spanish, French, Italian and Romanian languages is not only a critique of existing systems but also a response to new disciplinary conditions. This movement broadens the horizon: from the traditional Sino-European dialogue to current Sino-African and Sino-Latin American interactions, revealing new dynamics in the global literary landscape.
The special issue Decolonizing Knowledge: China and the Romance Literatures in Dialogue proposes to rethink comparative literary studies through horizontal and multilingual relations, highlighting how direct exchanges between China and the Romance-speaking world can renew critical categories and open new paths for the production of literary knowledge on a global scale. In view of this, we invite papers addressing, among other topics: studies of Romance literatures from a Chinese perspective; Chinese paradigms in Romance literary research; cultural transfers in reciprocal translations between China and the Romance literatures; reinterpretations of Chinese literature by translators working in Romance languages; interactions and intertextualities between China and the Romance literatures; the Sino-Romance dialogue and the system of world literature; and the Sino-Romance dialogue and the transcultural production of knowledge.
Vol. 28/3 (septiembre, octubre, noviembre, diciembre/2026)
Tema: Descolonización del saber: China y las literaturas romances en diálogo
Editores invitados:
Fan Xing (Universidad de Pekín)
Fabio Akcelrud Durão (Unicamp)
Wei Ran (Universidad de Tsinghua)
Zhang Wen (Universidad de Pekín)
Período de envío: 16 de enero de 2026 – 15 de mayo de 2026
Resumen
La investigación contemporánea se enfrenta a una paradoja: la centralidad del inglés como lengua mediadora limita el diálogo directo entre países no centrales, manteniendo a las tradiciones críticas situadas fuera del eje del Norte Global en un estado de invisibilidad. En China, la lectura, la traducción y la crítica de las literaturas romances —portuguesa, española, francesa, italiana y rumana— ya han alcanzado cierta escala, pero aún no han recibido un reconocimiento internacional suficiente. Al mismo tiempo, la circulación de la literatura china en el mundo de lenguas romances carece de un marco metodológico sólido. En este contexto, disminuir la dependencia de mecanismos intermediarios y privilegiar las interacciones directas entre China y las lenguas portuguesa, española, francesa, italiana y rumana no solo constituye una crítica a los sistemas existentes, sino también una respuesta a las nuevas condiciones disciplinarias. Este movimiento amplía el horizonte: del tradicional diálogo sino-europeo a las actuales interacciones sino-africanas y sino-latinoamericanas, revelando nuevas dinámicas en el panorama literario global.
El número especial Descolonizar el conocimiento: China y las literaturas romances en diálogo propone repensar los estudios comparados desde relaciones horizontales y multilingües, destacando cómo los intercambios directos entre China y el mundo de lenguas romances pueden renovar las categorías críticas y abrir nuevos caminos para la producción de conocimiento literario a escala global. En este sentido, invitamos a la presentación de artículos que aborden, entre otros temas: estudios de las literaturas romances desde una perspectiva china; paradigmas chinos en la investigación literaria de las lenguas romances; transferencias culturales en las traducciones recíprocas entre China y las literaturas romances; reinterpretaciones de la literatura china realizadas por traductores que trabajan en lenguas romances; interacciones e intertextualidades entre China y las literaturas romances; el diálogo sino-romance y el sistema de la literatura mundial; así como el diálogo sino-romance y la producción transcultural de conocimiento.
Vol. 28/3 (septembre, octobre, novembre, décembre / 2026)
Thème : Décoloniser le savoir – La Chine et les littératures romanes en dialogue
Rédacteurs invités :
Fan Xing (Université de Pékin)
Fabio Akcelrud Durão (Unicamp)
Wei Ran (Université Tsinghua)
Zhang Wen (Université de Pékin)
Période de soumission : 16 janvier 2026 – 15 mai 2026
Résumé:
La recherche contemporaine se trouve confrontée à un paradoxe majeur : la centralité de l’anglais comme langue de médiation scientifique tend à restreindre le dialogue direct entre les espaces dits « non centraux », reléguant ainsi leurs traditions critiques hors du champ de visibilité dominant. En Chine, la lecture, la traduction et l’étude critique des littératures romanes — portugaise, espagnole, française et italienne — ont certes atteint un certain degré de maturité, mais elles demeurent encore largement méconnues sur la scène internationale. Parallèlement, la circulation de la littérature chinoise dans le monde romanophone souffre de l’absence d’un cadre méthodologique solide susceptible d’en structurer la réception et l’analyse.
Dans cette perspective, réduire la dépendance à l’égard des médiations intermédiaires et favoriser les échanges directs entre la Chine et les aires linguistiques portugaise, espagnole, française et italienne constitue non seulement une mise en question des dispositifs institutionnels existants, mais aussi une réponse concrète aux reconfigurations disciplinaires contemporaines. Ce déplacement du centre de gravité intellectuel permet d’élargir l’horizon critique : du dialogue sino-européen traditionnel émergent désormais des formes nouvelles d’interactions sino-africaines et sino-latino-américaines, révélant des dynamiques inédites dans la cartographie mondiale des circulations littéraires.
Le numéro spécial « Décoloniser le savoir : la Chine et les littératures romanes en dialogue » se propose de repenser les études littéraires comparées à partir de relations véritablement horizontales et multilingues. Il met en lumière la manière dont les échanges directs entre la Chine et le monde romanophone peuvent renouveler les catégories critiques, reconfigurer les hiérarchies épistémiques et ouvrir de nouvelles voies pour la production et la circulation du savoir littéraire à l’échelle mondiale.
À cette fin, nous invitons des articles portant, entre autres, sur les sujets suivants : les études des littératures romanes d’un point de vue chinois ; les paradigmes chinois dans la recherche sur les littératures romanes; les transferts culturels dans les traductions réciproques entre la Chine et les littératures romanes ; les réinterprétations de la littérature chinoise par des traducteurs travaillant dans les langues romanes ; les interactions et intertextualités entre la Chine et les littératures romanes ; le dialogue sino-roman et le système de la littérature mondiale ; le dialogue sino-roman et la production transculturelle du savoir.
Read more about Proximas Chamadas